Os verdadeiros motivos que leva uma indústria a se instalar em determinado lugar
O assunto do momento é o trabalho, ouvimos o tempo todo que “o trabalho dignifica o homem”, isto é um fato incontestável.
Porém, devemos analisar por diferentes anglos, as relações e as consequências de ações, que destacam o trabalho, como elemento essencial para a constução da dignidade humana. A implantação de uma industria, por exemplo, em um determinado lugar, requer discursões, planejamentos e participação da sociedade como um todo, ao longo de todo processo. Mas, infelizmente, isso não acontece e o que realmente conta para a visão capitalista são os indíces da economia.
Geralmente, ficamos felizes com a chegada de uma indústria e muitas vezes agradecidos pelos benefícios que esta empresa pode gerar. Todos querem trabalho, independência financeira, dignidade e etc. mas, devemos nos conscientizar que as empresas são as princinpais beneficiadas.
Vejam porque…
O interesse das indústrias…
No momento atual, percebe-se uma intensa movimentação industrial que acontece em diferentes dimensão global, nacional, estadual e regional.
Independentemente da dimensão em que ocorre, o processo sempre vai seguir alguns padrões elementares, como a busca incessante pela expansão do capital e pela maximização dos lucros por parte das empresas, e a luta dos lugares em se manterem ativos e de certa forma representativos dentro do mundo capitalista globalizado em que estão inseridos.
De certa forma, o modo de produção capitalista é o responsável direto por esse processo, dentro dessa lógica, o espaço (município) se submete a transformações de influencia totalmente externas para permitir a reprodução do capital. Essa submissão do espaço para permitir a reprodução do capital pode ser entendida por exemplo, como a concessão do terreno por parte da prefeitura para atrair a instalação pequenas, médias e grandes empresas para seu município, e dessa forma incrementar economicamente o município.
“Desse ponto de vista, cada lugar, como cada região, deve ser considerado um verdadeiro tecido no qual as condições locais de infra-estrutura, recursos humanos, fiscalização, organização sindical, força reivindicatória afastam ou atraem atividades em dado momento”. (SANTOS e SILVEIRA, 2005, p. 297).
Por trás de toda movimentação industrial estão as diferentes vantagens oferecidas pelos lugares.Esse processo se configura pelo domínio econômico do território e pela perda da identidade deste, ou seja, os valores regionais e históricos de um território acabam ficando em segundo plano. O que importa no novo contexto global é seu valor econômico, seu potencial lucrativo, que é condicionado por uma série de fatores legais, sociais e econômicos associados ao território.
Dentre esses fatores podemos citar:
- Flexibilidade nas normas de adequação ambiental:
A preocupação mundial crescente frente às questões ambientais, levou diversos países a criarem leis e regras ambientais mais rígidas nos últimos anos. A adequação a essas normas é um processo caro e demorado, que sem dúvida não permite que as indústrias maximizem seus lucros de forma efetiva, e o não cumprimento dessas culmina em severas penas revertidas em multas ou até no fechamento da empresa.
Em contra partida, existem países ou regiões que flexibilizam essas normas com o intuito de atrair indústrias para o seu território e dinamizar sua economia. Porém as conseqüências dessas atitudes são por vezes catastróficas, o meio ambiente acaba sendo degradado em troca de uma maior lucratividade e desenvolvimento econômico.
A fabricação de determinados produtos, ou diferentes etapas de produção de um produto, não exigem mão-de-obra qualificada. Países ou regiões mais pobres geralmente oferecem um grande contingente de mão-de-obra desqualificada e desempregada que não exigem o pagamento de altos salários. São esses os alvos preferidos de indústrias, que não necessitam de especialização para maior parte da realização de seus trabalhos.
- Fraca organização sindical:
Quanto mais antiga as atividades industriais em determinado país e região, maior será a organização da sua força de trabalho em torno de sindicatos que garantem saudáveis relações de trabalho. Dentre as principais ações sindicais estão a exigência do pagamento de salário base, cumprimento de jornada de trabalho de oito horas, férias remuneradas, FGTS, 13º salário entre outros. O cumprimento de todas as exigências sindicais acaba tornando-se oneroso às empresas, que no intuito de maximizar seus lucros, acabam preferindo se instalar em lugares de industrialização recente onde não há uma intensa atividade sindical.
- Integração do local a uma rede de fluidez do produto
Uma rede de transportes densa favorece uma maior fluidez de pessoas, capitais e mercadorias, e por isso acaba sendo requisito indispensável para uma possível instalação industrial.
Espaços fragmentados, que não mantêm qualquer ligação direta com uma rede de transportes mais densa, acabam tornado-se espaços alheios ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social de seu entorno.
Isentar os estabelecimentos industriais do pagamento de impostos é uma das práticas mais comumente adotada por alguns países, estados ou municípios para atrair esse tipo de atividades para o seu território. O pior é que na maioria das vezes, quando o período de isenção de impostos cessa (geralmente 10 anos), essas empresas migram para outros lugares que lhes ofereçam as mesmas condições.
Ressalvo que, é importante visar a geração de empregos em um município, no entanto, não devemos esquecer que é uma relação em que todos se beneficiam (principalmente os patrões).
Quero deixar bem claro, que não sou contra a chegada de indústrias em nosso município, inclusive destaco que o bom momento que o nosso país está vivendo, contribui diretamente para que isso aconteça.
Somente, quero frisar que...
Devemos zelar não apenas dos fatores econômicos, mas também, dos sociais, culturais e ambientais.
Referencias Bibliográficas
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. 3ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2000
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: Território e Sociedade no início do século XXI ,7ª ed. São Paulo – Rio de Janeiro: Editora Record, 2005.
SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A. de Souza; SILVEIRA, Maria Laura. Território Globalização e Fragmentação, 5ª ed. São Paulo: Editora Hucitec, 2002
CARLOS, Ana Fani A. Espaço e Indústria – A Geografia e a cidade. A Indústria e a Urbanização. A Metropolização e o Espaço Transnacional.9ª ed.São Paulo: Editora Contexto, 2001
SABÓIA, João. Descentralização industrial no Brasil na década de noventa: um processo dinâmico e diferenciado regionalmente. Nova Economia – Revista do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG; artigo on-line: http//www.face.ufmg.br/novaeconomia/sum&aac