Quadrilha usava celulares de plástico para fraudar vestibulares em MG e RJ.
O Bom Dia Brasil teve acesso às gravações que revelam o esquema.
A reportagem mostrou na semana passada a prisão de estudantes, médicos e empresários envolvidos com uma quadrilha que fraudou o vestibular de 11 instituições de ensino em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.
O Bom Dia Brasil teve acesso às gravações feitas pela polícia que revelam como funcionava o esquema criminoso. E mostra ainda que, depois de entrar na universidade, os estudantes também usavam os serviços da mesma quadrilha para conseguir passar de ano. A reportagem é de Liliana Junger.
Os equipamentos usados pela quadrilha surpreenderam os investigadores. Segundo a polícia, os celulares eram de plástico, não tinham partes metálicas. Os fraudadores também ofereciam aos candidatos pontos eletrônicos. O receptor ficava escondido em uma carteira.
O Bom Dia Brasil teve acesso às escutas telefônicas feitas com autorização da justiça. A tecnologia era um dos atrativos durante a negociação com os candidatos.
“Eles arrumaram um celular agora que não tem auto-falante não, viu? Só aparece a mensagem. Então detector de metal não pega ele”, afirma o criminoso.
O valor cobrado por uma vaga no curso de medicina era muito alto. “R$ 130 mil que nós combinamos”.
Quem pagava recebia treinamento antes de fazer a prova. Imagens mostram candidatos e integrantes da quadrilha se reunindo dentro de carros, onde, segundo a polícia, os candidatos recebiam as instruções da fraude.
Golpista: Você vai pegar o celular, vai colocar ele no silencioso e na calcinha, no zíper. Porque se geralmente eles passam com detector, mas eles só passam detector na hora que entram.
Estudante: Como que eu vou fazer para tirar da calcinha e colocar debaixo da perna?
Golpista: Vai ter duas horas para você levantar devagar. Não vai precisar fazer correndo não. Vai levantando devagar no meio da cadeira, joga o corpo para lá, para cá e vai tirando.
Por telefone, as respostas eram enviadas. A quadrilha ainda enganava alguns estudantes que acreditavam ter passado no vestibular. Hackers eram contratados para incluir o nome dos candidatos que pagaram na lista de aprovados.
“Só se alterou o site que foi publicado o resultado, o site da empresa que publicou o resultado. Então essas pessoas tão logo chegaram na universidade descobriram que não foram aprovadas e isso gerou uma grande frustração”, afirma o delegado Luiz Eduardo Gomes.
Foi o que aconteceu com uma estudante, que já tinha até comemorado aprovação. “Você me falou que o negócio era garantido e isso é uma furada das grandes. Era óbvio que se o sistema fosse hackeado eles iam descobrir e arrumar de novo. A gente fez festa, um monte de coisa. Pois é. O que eu falo agora?”, questiona.
Os que conseguiam entrar na faculdade continuavam usando os serviços da quadrilha para passar nas matérias do curso de medicina.
Golpista: Está me ouvindo?
Estudante: Estou
Golpista: Vou falar a número 3: Aberta. Vou começar a ditar agora. Olha, devagarzinho. Por ser um medicamento ácido. A número 1: Fechada. É letra A. A número 2: fechada. É letra E, de elefante.
“A gente percebeu que essa pessoa ingressa por fraude, permanece na fraude durante seis anos e posteriormente está apto a obter o CRM e a realizar os procedimentos médicos, pondo em risco a saúde pública”, ressalta o delegado Fernando Lima.
O esquema descoberto na semana passada prendeu 21 pessoas em 17 cidades de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Com a quadrilha foram encontrados R$ 300 mil em dinheiro e US$ 25 mil. Dinheiro que de acordo com a polícia, seria do pagamento pelas fraudes.
Ao todo, 11 instituições de ensino foram investigadas durante nove meses. A polícia agora quer saber se funcionários das faculdades estão envolvidos no esquema. Além de estudantes, estão presos médicos e empresários que, de acordo com as investigações, também participaram das fraudes.
“São pessoas que têm um grande poder econômico, que gastavam muito para entrar na universidade e para se manter na universidade. São pessoas despreparadas para exercer a medicina”, afirma o delegado Luiz Eduardo Gomes.
O Conselho Federal de Medicina disse que espera que o caso seja apurado e que os responsáveis sejam punidos.
Fonte:
BOM DIA BRASIL
Edição do dia 09/12/2013
09/12/2013 07h53
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