Cada um de nós tem o direito de viver, de ser livre, de ter sua casa, de ser respeitado como pessoa, de não ter medo, de não ser pisado por causa de seu sexo, de sua cor, de sua idade, de seu trabalho, da cidade donde veio, da situação em que está, ou por causa de qualquer outra coisa. Qualquer ser humano é nosso companheiro porque tem os mesmos direitos que nós temos.
segunda-feira, 16 de março de 2015
A luta contra
a corrupção começa dentro de casa
A corrupção é costume no Brasil desde a época do descobrimento. Se lermos as pregações de Padre Antônio Vieira, vamos encontrar denúncias fantásticas de corrupção. A cultura de levar vantagem sempre está mais enraizada na sociedade brasileira do que podemos imaginar.
Outro dia me surpreendi com um programa de pegadinhas em um canal de televisão, onde várias pessoas, homens e mulheres, foram colocados em situação que permitiria provar ou não serem honestos, pegando ou não um objeto esquecido sobre uma mesa de bar. Sem saber que estavam sendo gravados, todos eles pegaram o objeto, e o esconderam na bolsa, negaram que fariam isso na hipótese de encontrar algo perdido.
Indagados ao final sobre o que acham dos políticos brasileiros, foram unânimes em responder: "são todos ladrões e devem ir para a cadeia". Exatamente como qualquer um deles que roubaram, negaram e atacaram. É a cultura da mentira.
Temos que mudar essa situação. A correção deve iniciar-se dentro de casa. Continuar na escola. No dia a dia, nos pequenos detalhes. Muitos filhos estão acostumados a ouvir na mesa do jantar, os pais dizerem que pagaram propinas para vencer uma licitação. E crescem acreditando que isso é ser inteligente, é prática normal e não um crime.
Estamos vivendo, portanto, um momento crucial. O resultado do que fizermos agora vai afetar nossos filhos e netos e os destinos do País. Desde o escândalo que levou à queda do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, a sociedade brasileira não havia voltado a se manifestar espontaneamente com a força que parece neste momento estar prestes a demonstrar.
É responsabilidade nossa, do cidadão, lutar contra a corrupção, porque este delito prejudica a sociedade como um todo. Somos todos culpados. Temos corruptos dentro de todas as instituições. Dentro de muitos lares.
A sonegação de impostos, a propina para apagar uma multa de trânsito, a obtenção de um falso atestado médico para justificar a falta ao trabalho ou à sala de aula, são manifestações consideradas normais e justificáveis pelo brasileiro comum.
Há uma complacência com a micro corrupção. Cada um de nós deve pensar: a partir de agora não vou querer tirar vantagem contra outro cidadão, contra uma instituição, contra o Estado. Aí sim estaremos no início do começo da luta contra a corrupção.
Concordo com a posição da presidenta Dilma, que ao ser questionada sobre as razões pelas quais o PT não conseguiu cumprir a sua promessa de acabar com a corrupção no Brasil, respondeu que a atividade de controle da corrupção jamais termina.
O resultado de nosso voto reflete a sociedade. E se uma parte dela está podre, com certeza ela toda não estará. Do contrário não estaríamos aqui, agora, nos manifestando e apoiando o movimento contra a corrupção.
Processo de impeachment não tem base até o momento.
A série de problemas enfrentados pela presidente Dilma Rousseff neste início de segundo mandato já foi indicada por alguns como sinal de ameaça ao seu governo.
Na semana passada, um blog publicado no site do jornal britânico Financial Times listou 10 motivos para acreditar que Dilma poderia sofrer impeachment, entre eles as investigações de corrupção na Petrobras, a economia em baixa, a crise no abastecimento de água e energia e o menor apoio no Congresso.
No entanto, para cientistas políticos consultados pela BBC Brasil, esse não é um cenário realista e, apesar dos problemas, no momento não há razão para considerar a possibilidade de que Dilma não termine seu mandato.
Abaixo, cinco motivos pelos quais os brasilianistas consideram improvável um processo de impeachment no Brasil:
1 – Até o momento, não há base para impeachment
Para os analistas entrevistados pela BBC Brasil, apesar dos graves problemas enfrentados pelo governo, não está claro qual seria a base para um processo de impeachment.
"Há tensões dentro do governo, tensão entre Lula (o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) e Dilma, entre o PT e (o novo ministro da Fazenda) Joaquim Levy. A polarização no Brasil está ficando muito forte, entre o PT e a oposição, entre o Congresso e a presidente", enumera Peter Hakim, presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, em Washington.
"Mas a pergunta que eu tenho é como o processo de impeachment seria iniciado, qual seria a base para impeachment", questiona.
Segundo Hakim, até o momento não parece haver nada que possa desencadear um processo de impeachment. Ele ressalta que acusações de "incompetência", por si só, não são motivo para impeachment.
O cientista político Riordan Roett, diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, em Washington, lembra que nos Estados Unidos a ameaça de impeachment também costuma ser mencionada com frequência.
"O impeachment nunca está fora de questão. Os conservadores do Tea Party estão sempre falando em impeachment no Congresso americano, mas obviamente isso não vai acontecer", compara.
"(No caso do Brasil) penso que é muito cedo para sequer pensar sobre a possibilidade de um processo sério de impeachment."
2 – Não há evidências de envolvimento de Dilma no escândalo da Petrobras
O escândalo de corrupção na Petrobras, que já provocou o rebaixamento da nota da empresa pela agência de classificação de risco Moody's, é considerado por Hakim o principal problema enfrentado por Dilma no momento.
Mas ele e outros analistas ressaltam que nada indica que a presidente – que esteve à frente do Conselho de Administração da empresa entre 2003 e 2010 – tenha tido algum tipo de envolvimento ou soubesse dos casos de corrupção.
"Até o momento, não há evidência de que Dilma seja culpada de nada além de má administração (no caso da Petrobras)", diz o cientista político Matthew Taylor, pesquisador do Brazil Institute, órgão do Woodrow Wilson Center e professor da American University, em Washington.
Taylor observa que, assim como no escândalo do Mensalão muitos dos membros mais céticos da oposição diziam na época que o então presidente Lula deveria saber do que ocorria, no caso da Petrobras é possível que muitos digam o mesmo de Dilma, que seus laços com a empresa eram tão estreitos que ela deveria saber do esquema de corrupção.
"Mas em uma grande organização como essa, é bem plausível que ela simplesmente não tenha investigado mais profundamente o que poderia estar ocorrendo", afirma.
"Até agora não há qualquer sugestão nos documentos que se conhece de que Dilma seja culpada de qualquer comportamento criminoso", diz Taylor.
Segundo os analistas ouvidos pela BBC Brasil, a oposição não teria condições e nem tem interesse em levar adiante um processo de impeachment.
"Não acho que o PSDB teria muito a ganhar. Além disso, precisaria do apoio do PMDB e de outros partidos na coalizão do governo. E, francamente, nenhum desses partidos gostaria de ver Dilma sofrendo um impeachment", afirma Taylor.
"Eles têm muito a ganhar com uma Dilma enfraquecida", observa. "Talvez seja melhor para a oposição simplesmente deixar Dilma mergulhada na crise e deixar que ela tome as difíceis medidas de austeridade e ser responsabilizada por elas."
4 – Apoio no Congresso
Dilma enfrenta dificuldades em sua relação com o Congresso e com a própria base aliada, em um momento em que o PT e o PMDB, apesar de terem as maiores bancadas, perderam cadeiras nas últimas eleições, que também foram marcadas por uma maior fragmentação do Congresso.
"Uma das questões cruciais para Dilma é lutar contra a oposição que há no Congresso ao plano de ajuste fiscal. Mas ela está em uma posição enfraquecida, porque não é popular, o PT tem menos membros no Congresso, há mais partidos pequenos", enumera Roett.
Apesar das dificuldades, os analistas ressaltam que a estrutura de apoio de Dilma é muito mais forte do que a do ex-presidente Fernando Collor de Mello, alvo de impeachment em 1992.
"Collor estava implementando políticas que eram de certa maneira radicais, que iam contra a maioria dos eleitores, e estava fazendo isso em um contexto em que seu partido tinha menos de 3% do Congresso", diz Taylor
5 – Dificuldades em toda a América Latina
A avaliação dos analistas é de que, apesar de graves, os atuais problemas não são exclusividade do Brasil. Muitos países da América Latina também enfrentam um período de escândalos e economia em queda.
"Não é como se o Brasil estivesse sozinho", observa Hakim.
Ele cita os casos de México, Venezuela, Peru, Chile e Argentina, onde os presidentes também atravessam um momento de fraca popularidade.
"Se no Brasil a inflação chega a 7,3% nos últimos 12 meses, na Argentina está em torno de 40%, e na Venezuela perto de 70%", diz Hakim.
"A confiança do investidor está em baixa em toda a América Latina."
Exagero
Para Hakim, há um certo exagero quando se fala na possibilidade de impeachment de Dilma.
"Ninguém falava em impeachment de Fernando Henrique Cardoso por causa da crise do apagão. Ninguém falava em impeachment de Lula por causa do Mensalão", lembra.
O analista reconhece que Dilma está enfrentando problemas em várias frentes, mas afirma que esses problemas não são incomuns em governos com a economia em baixa.
"Lembra quando todos falavam que o Brasil era um foguete em direção à lua, que ninguém segurava o Brasil? Aquilo foi dramaticamente exagerado. Agora, o suposto desastre enfrentado pelo Brasil também está sendo exagerado. Pode estar prestes a enfrentar um pouco de turbulência, mas não se compara à situação da Argentina ou da Venezuela", afirma Hakim.
Taylor diz que o escândalo da Petrobras o deixa "cautelosamente otimista".
"Quando se pensa no Brasil e nas experiências da América Latina, em quantos outros países você prenderia alguns dos mais importantes empresários e consideraria a possibilidade de prender alguns dos mais importantes políticos? E, mesmo eu não achando um cenário realista, a própria contemplação de impeachment de uma maneira válida institucionalmente. Isso tudo aponta para a força da democracia brasileira, não fraqueza."